O que de mais importante veio à tona no GP do Japão, neste domingo, em Suzuka? Primeiro o fato de a vitória de Lewis Hamilton, da Mercedes, associada ao abandono de Sebastian Vettel, Ferrari, deixar o piloto inglês na surpreendente condição de já ter um match point na próxima etapa do campeonato, em Austin, nos Estados Unidos, dia 22.
Depois, a confirmação de que os engenheiros da Ferrari conseguiram tornar o modelo SF70H mais rápido, na média mais que o W08 Hybrid da Mercedes. Mas a que preço? Vettel e o companheiro, Kimi Raikkonen, não tiveram um único problema sério de confiabilidade até o GP de Cingapura. Mas só na Malásia foram três unidades motrizes e em Suzuka uma. E Hamilton não desperdiçou as oportunidades oferecidas.
A seguir, a análise com nota dos dez primeiros colocados no GP do Japão e um comentário à parte sobre Sebastian Vettel e a Ferrari.
Lewis Hamilton – 10
Classificação: Vencedor
Posição no grid: Pole position
Carro: Mercedes W08 Hybrid
O conceito de sorte e azar é bastante pessoal. Mas na F1, como em quase tudo na vida, costuma se dizer que “a sorte procura os competentes”. O caso de Hamilton neste final de temporada é um bom exemplo de que em muitas ocasiões o velho ditado parece mesmo proceder. Todos, inclusive Hamilton, esperavam uma luta com Vettel até a última etapa, dia 26 de novembro, em Abu Dhabi.
Mas as dificuldades da Ferrari nas três últimas provas, causadas por ela mesmo, Cingapura, Malásia e Japão, acabaram por modificar profundamente o cenário final da disputa. A não ser que assistamos a algo bastante incomum, sempre possível de acontecer, Hamilton deve celebrar o quarto título na brilhante carreira de, por exemplo, 61 vitórias, 115 pódios e 71 pole positions, em 204 GPs disputados.
Na corrida, quando Max mostrou que poderia ultrapassá-lo, a três voltas da bandeirada, como fez em Sepang, uma semana antes, Hamilton administrou o comportamento do seu W08 Hybrid não tão estável com os pneus macios, colocados no pit stop (volta 22 de um total de 53), em substituição aos supermacios.
Hoje, aos 32 anos, Hamilton reúne seu imenso talento natural a grande autocontrole, maturidade, serenidade, consciência do que pode fazer na pista. Se for campeão de novo, como tudo indica, esses predicados todos mais que justificarão a conquista. Pilotou até agora como em nenhum dos três campeonatos que venceu, 2008, 2014 e 2015.
Max Verstappen – 9,5
Classificação: 2º
Posição no grid: 3º
Carro: R13-TAG Heuer (Renault)
Há um dado irrefutável para entender o fim de campeonato de Max. Do GP de Bahrein, terceiro do calendário, ao de Cingapura, 14º, esse holandês que acaba de completar 20 anos somou 43 pontos. E nas duas últimas corridas, Malásia e Japão, os mesmos 43, decorrentes da vitória em Sepang e do segundo lugar em Suzuka.
Em Suzuka, ao ver que Hamilton perdeu ritmo por causa de os pneus não aquecerem tão bem como os do seu carro, na liberação do safety car virtual, na 51ª volta, ambos com os macios distribuídos pela Pirelli, se aproximou para tentar dar o bote. Mas, sem desejar, Fernando Alonso, McLaren, e Felipe Massa, Williams, que lutavam pelo décimo lugar, acabaram por atrasá-lo. Depois, honesto como sempre, Max disse que mesmo sem o tráfego não conseguiria ultrapassar Hamilton.
Na classificação, sábado, Max adotou um acerto aerodinâmico que reduziu sua velocidade nas retas, mas o recompensou no domingo. Essa configuração ajudou a perder a luta com o companheiro, Daniel Ricciardo, na definição do grid, algo não usual.
Se a RBR acertar no projeto do carro de 2018, como é possível, com o envolvimento do engenheiro Adrian Newey de novo, e a Renault melhorar ainda mais sua unidade motriz, Max é piloto para lutar pelo título.
Daniel Ricciardo – 8
Classificação: 3º
Colocação no grid: 3º
Carro: RBR13-TAG Heuer
Aproveitou-se muito bem de ter um carro mais rápido nas retas, no sábado, para ficar na frente de Max em um traçado onde o holandês faz a diferença. Mas em corrida Ricciardo não foi tão brilhante como em outras ocasiões, sem que com isso não tenha sido muito eficiente, como de hábito.
Correu sozinho na terceira colocação, sem ameaçar Max, segundo. No fim, com a estratégia invertida de Valtteri Bottas, que começou a corrida com os pneus macios e depois colocou os supermacios, Ricciardo teve de acelerar para valer para ir ao pódio pela nona vez em 16 provas.
E, convenhamos, a não ser agora, nos últimos GPs, a RBR não tinha carro para tudo isso. O australiano tem enorme responsabilidade na proeza. Forma com Max uma dupla complementar e, provavelmente, a mais forte do grid.
Valtteri Bottas – 7
Classificação: 4º
Posição no grid: 6º
Carro: Mercedes W08 Hybrid
Ter ficado em segundo, no sábado, a 332 milésimos de Hamilton, numa pista supersseletiva e longa, 5.807 metros, é um importante sinal de que Bottas resgatou sua autoconfiança, abalada como ele mesmo disse, na Malásia. A instabilidade do carro da Mercedes, bastante sensível às variações de temperatura do asfalto, curiosamente neste final de temporada afetou mais Bottas que Hamilton, ao contrário do que vimos em Mônaco e na Rússia.
Kimi Raikkonen – 6
Classificação: 5º
Posição no grid: 10º
Carro: SF70H
O erro no último treino livre, FP3, no sábado de manhã, comprometeu o restante do fim de semana. Bateu o carro e os danos foram tantos que precisou substituir o câmbio. Na classificação disse que o SF70H não estava rápido e equilibrado como antes. Registrou apenas o sexto tempo. Caiu para décimo, com a punição pela troca da caixa de marchas.
Na largada, se envolveu numa luta com Nico Hulkenberg, da Renault, que o fez cair para 14º. Depois veio crescendo na corrida a ponto de chegar em quinto, a 32seg622 de Hamilton. Raikkonen produziu menos no fim de semana do que o potencial da Ferrari lhe permitia.
Esteban Ocon – 9
Classificação: 6º
Posição no grid: 5º
No sábado, havia na sua frente duas Mercedes, duas Ferrari e duas RBR. Ocon foi sétimo, ou seja, o primeiro fora os seis pilotos com os carros mais rápidos. Com a punição a Bottas e Raikkonen, pelo uso de um novo câmbio, esse francês de 21 anos largou em quinto. E já pulou para terceiro. Depois, sem velocidade para lá se manter, acabou ultrapassado por Ricciardo, Bottas e Raikkonen. Terminou em sexto, de novo o máximo possível.
Ocon correrá pela Force India em 2018, mas desde já concorre com Bottas à vaga de companheiro de Hamilton na Mercedes, em 2019, considerando-se que o inglês vai renovar o contrato com o time alemão. Ocon só não marcou pontos este ano no GP de Mônaco, mas recebeu a bandeirada, 13º. É um dos grandes talentos da nova geração.
Sérgio Perez – 7
Classificação: 7º
Posição no grid: 7º
Carro: VJM10-Mercedes
Disputou, como quase sempre, uma boa corrida, mas desta vez não no mesmo nível de Ocon. Com tudo que se fala do francês, e com razão, a verdade é que a regularidade de Perez também revela sua competência, sem ser genial. Essa constância fez Perez somar até agora 17 pontos a mais que Ocon, 82 a 65.
Kevin Magnussen – 8
Classificação: 8º
Posição no grid: 12º
Carro: Haas VF17-Ferrari
Se existe um piloto que combate com todas as suas forças do momento que senta no carro é esse dinamarquês de 25 anos. Por vezes, até excessivamente. Isso ajuda a explicar Kevin não marcar pontos desde o GP do Azerbaijão, há sete etapas. Em Suzuka seu ímpeto associado à inegável velocidade o levou a sair da 12ª colocação no grid para um excelente oitavo lugar na corrida.
Romain Grosjean – 7
Classificação: 9º
Posição no grid: 13º
Carro: Haas VF17-Ferrari
Na Malásia, a tampa de boeiro solta provocou o acidente que destruiu seu carro. Mas sábado, em Suzuka, foi o erro desse combativo piloto francês que causou outro impacto na barreira de pneus que danificou bastante o monoposto do time norte-americano. Mas isso não impediu de Grosjean correr, como sempre, lutando com gana para avançar na classificação. Largou em 13º e terminou em nono.
O empresário norte-americano Gene Haas vibrou com o fato de seus dois pilotos terem marcado pontos na prova anterior a F1 se deslocar da Ásia para os Estados Unidos. Foi a segunda vez que isso aconteceu na temporada. A primeira, em Mônaco, com Grosjean em oitavo e Magnussen, décimo. Os seis pontos no GP do Japão levaram a Haas a ultrapassar a Renault para assumir o sétimo lugar entre os construtores, com 43 pontos, diante de 42 dos franceses.
Felipe Massa – 7
Classificação: 10º
Posição no grid: 8º
Carro: FW40-Mercedes
Disputou excelente classificação, sábado, ao registrar o nono tempo. Largou em oitavo com a punição a Raikkonen. No começo da corrida até que pôde manter bom ritmo, com os pneus supermacios, mas depois do pit stop, ainda na 17ª volta, com os pneus macios, perdeu mais velocidade, proporcionalmente, que os adversários com quem lutava por pontos. E no fim também os pneus macios estavam mais desgastados. A Williams evoluiu menos o seu monoposto que a maioria das equipes. Massa precisou usar sua experiência de 267 GPs para manter Alonso atrás de si e somar um ponto para a Williams.
Ferrari – 10
Quando a F1 começou a pré-temporada, em fevereiro, a impressão geral no paddock era de que a Ferrari teria não somente um ano difícil como até o campeonato de 2018 estava em parte comprometido. Isso porque em julho de 2016 o presidente da Fiat e da Ferrari, Sérgio Marchionne, mandou embora o grupo do engenheiro inglês James Allison e colocou no seu lugar um grupo de técnicos bem jovens e pouco experiente, a grande maioria italiana, para assumir a direção técnica da escuderia, sob a coordenação de Mattia Binotto.
Mas o que se viu no Circuito da Catalunha, em Barcelona, nos primeiros testes, foi Vettel e Raikkonen estarem sempre dentre os mais rápidos e constantes, além de o modelo SF70H apresentar de cara elevada confiabilidade.
Todos, então, disseram que o verdadeiro desafio daquele grupo jovem de engenheiros seria desenvolver o SF70H, já que o projeto em si tinha assinatura de outros técnicos. E de novo o que a F1 viu foi o SF70H tornar-se melhor e melhor quase a cada prova do calendário. Os engenheiros de Binotto foram aprovados, com louvor, de novo.
Essa surpreendente competência, inesperada por praticamente todos na F1, associada ao talento, determinação, garra, força de trabalho de Vettel, levou a Ferrari a lutar pelo título até o GP da Malásia. Ainda não acabou, é verdade. Tudo pode acontecer. Por exemplo Hamilton abandonar as duas próximas etapas e Vettel vencê-las. Mas é inegável que faltando quatro GPs, Hamilton, com 59 pontos de vantagem, 306 a 247, as suas chances de ser campeão são bem maiores.
O saldo do campeonato é amplamente favorável a Ferrari. O salto de performance de um ano para o outro, em nível de chassi e unidade motriz, é raro na história da F1. O que abre a perspectiva de o jovem grupo de engenheiros coordenado por Binotto realizar outro excelente trabalho no projeto de 2018, ainda que a concorrência deverá ser maior. Da própria Mercedes, com um carro coordenado por Allison, e da RBR, com Newey seguindo de perto o projeto do modelo de 2018.
Fonte: g1.globo