O bebê completou seis meses, já senta e consegue levar coisas à boca com facilidade. Excelente! Já é um forte candidato a iniciar a introdução alimentar pelo método BLW (do inglês “Baby-Led Weaning”, que quer dizer “desmame guiado pelo bebê”)! Mas e agora, como começar o BLW? Bom, antes de tudo, é importante você entender que o método foi descrito no Reino Unido. Isso significa que muitas orientações relacionadas aos alimentos em si podem variar em vários aspectos do que o que é preconizado aqui no Brasil pelos dois órgãos responsáveis pelas diretrizes no assunto: o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria.
A introdução alimentar tradicional descrita por esses órgãos de referência prevê que o bebê seja introduzido à dieta sólida gradualmente, considerando a oferta de papas não liquidificadas, em progressão crescente em consistência, de forma que, próximo aos 12 meses, a criança já coma a mesma comida da família. Muitos pediatras ainda orientam começar a introdução alimentar com laranja lima, depois frutas simples, como banana, maçã e pera – uma fruta por dia, por dias consecutivos e depois de uma semana começar com a papa salgada… entre outras orientações que variam de acordo com o profissional que acompanha seu bebê.
Já no BLW, o bebê come a comida da família – desde que a família tenha hábitos saudáveis – desde o primeiro dia. Cabe a você colocar na balança e decidir quais alimentos irá apresentar e com que frequência. Vale ressaltar que a presença de histórico familiar de alergia alimentar definitivamente requer uma atenção extra e isso deve ser discutido junto ao profissional que acompanha seu filho.
É importante ter apoio médico. Alguns não conhecem a sigla “BLW”, mas o mais importante é descrever: “meu bebê vai comer sozinho, alimentos sólidos que ele possa manusear, desde o início da introdução alimentar”. Muitas famílias já utilizam o BLW sem nem saber que ele existe, então é possível que o pediatra tenha algum conhecimento sobre o assunto.
Se o pediatra ou nutricionista que o acompanha insistir na ordem de apresentação dos alimentos, não há problema, desde que respeitadas as principais “diretrizes” do BLW: deixar que o bebê manipule SOZINHO o alimento sólido, que sejam esquecidas as papinhas e que seja respeitado o ritmo e quantidade escolhidos pelo bebê. É muito importante avaliar se a saúde geral do bebê está adequada, se ele está aceitando bem a alimentação láctea e se ele irá precisar de complementação vitamínica. Consulte uma segunda ou terceira opinião caso precise sentir-se mais confiante.
Você deve ter em mente que o bebê VAI sim brincar com a comida em um primeiro momento. Pra ele, as primeiras semanas vão ser totalmente de descoberta e o que vai incentivá-lo a manipular os alimentos não é a fome, mas a curiosidade. Esse primeiro contato vai ser essencial para que ele tenha uma boa relação com os alimentos e com a hora da refeição. Tem que ser prazeroso, apenas isso. Se ele fizer as refeições junto à família, vai ainda começar a entender todo o aspecto social que a hora da refeição envolve. Tudo isso tende a levar a criança à gostar da hora da refeição, criando desde o princípio, uma relação saudável com o alimento.
Com o BLW, o bebê vai aprender primeiro a mastigar, e só depois a engolir – ou seja, na sequência esperada e fisiológica dos eventos. Isso tende a fazer com que eles modulem melhor a força de mastigação e mordida, além da quantidade de comida que colocam na boca. No início, é comum que eles tenham reflexo de gag (ânsia de vômito) e/ou cuspam a comida. Muito pouco vai pro estômago e isso é absolutamente esperado. A amamentação em livre demanda e/ou oferta de leite artificial ainda vai ser a principal fonte de nutrição dos bebês neste primeiro momento. No BLW, o bebê irá decidir quando reduzir as mamadas – e isso só vai acontecer quando ele estiver pronto para alimentar-se de forma satisfatória. Tudo vai ser no tempo do bebê, por isso o método é chamado de “desmame guiado pelo bebê”.
Idealmente, ofereça frutas e legumes levemente cozidos para que fiquem macios o suficiente para serem mastigados com a gengiva e duros o suficiente para que não sejam amassados com facilidade e dissolvidos durante a preensão palmar. Nas primeiras semanas, é melhor oferecer as carnes em pedaços grandes, para serem apenas explorados e sugados. Cortar as tiras de carnes no sentido transversal das fibras irá ajudar os bebês a retirar fiapos de carne com a força da mordida – ainda que não tenham dentes.
Um bom guia para o tamanho e forma necessária é o tamanho do punho do bebê, com um importante fator para se ter em mente: bebês pequenos não conseguem abrir o punho intencionalmente. Assim, eles não conseguem pegar um alimento e soltá-lo dentro da boca, ou seja, irão morder apenas o que sai pra fora do punho fechado. Isso significa que eles tem melhor desempenho com o que tem forma de batata-frita ou tem uma “alça” (como o cabo do brócolis, por exemplo). Eles então podem mastigar o pedaço que está saindo para fora do punho fechado e soltar o restante depois – geralmente enquanto eles estão tentando pegar o próximo pedaço que parece mais interessante. Frutas e legumes escorregadios podem ser deixados com a casca, para facilitar a preensão. Conforme as habilidades do bebê são adquiridas, menos comida será desperdiçada.
Refência: Rapley, G. Guia para implementação de uma abordagem de introdução de alimentos sólidos guiada pelo bebê. 2008. Disponível em: www.rapleyweaning.com. Último acesso: 31/08/2014.
Kelly Pantaleão
Graduada em Nutrição
Especialista em Nutrição Clínica e Nutriendocrinologia